sexta-feira, 19 de maio de 2017

Mar de solidão


O pai chega do trabalho, senta no sofá. Está muito cansado para brincar com a criança. A mãe questiona a atitude dele, gritando da cozinha, onde prepara o jantar. De forma áspera, o pai responde: eu trabalhei o dia inteiro e você, o que fez? A criança corre para o quarto. Mais um dia, novamente, a mesma história.

Quais motivos temos para continuar? Quanto mais maduros, mais percebemos os caminhos aos quais seguir, sabemos pensar nas consequências das nossas ações. A imaturidade é regada de inseguranças e dúvidas, que refletem nas decisões. Quando nos deparamos – despreparados –, com desafios, não pensamos nas consequências, não vemos as coisas como um todo, o que nos dirige para erros e frustrações – às vezes, fatais. “Mas, afinal, por que não, no fim das contas a vida não tem sentido mesmo”, pensa a criança... as crianças, os jovens, até adultos.

A sociedade sempre olhou para distúrbios, depressão, por exemplo, como “frescura”. É proibido se sentir mal, é imposto que há de se ter um sorriso para todos, mesmo que falso. Isso cria um bloqueio comunicacional entre pessoas, sentimentos não se externalizam, pessoas não se ajudam, não se toleram, só convivem, sem viver.  

Todos sofremos algo na vida que nos deu cicatrizes, cada um sabe o quanto é difícil lidar com intempéries. Mas, é em uma sociedade que não tira um tempo para dar atenção ao próximo e finge que todos estão bem, é que problemas como jovens aderindo a jogos suicidas e séries sendo taxadas de estopim para o suicídio, se tornam um motivo para culpar ainda mais aqueles que não sabem nem a direção a qual, desesperados, correm. Enquanto nós, adultos, deveríamos ajudá-los, acabamos inflamando a situação ao culpá-los. Afogamos as pessoas em um mar de solidão e culpamos a tal baleia. Culpamos uma série que mostra os problemas, pois, não os queremos ver. Culpamos quem tem dificuldades, em vez de ajudar. Nós matamos e fingimos não saber. 

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