sexta-feira, 19 de maio de 2017

Assino a caneta: sou muito mais que “aquela”


O que é uma mulher de respeito para você? Para minha avó, é “aquela” que usa roupas comportadas. Meu melhor amigo, diria que é “aquela” que não desce até o chão quando toca funk. Segundo meu avô, é “aquela” que respeita o marido. Mas afinal, o que é uma mulher de respeito? Há mais ou menos 50 anos, conceito de mulher de respeito se aplicava as moças que aprendiam a cozinhar cedo, que se casavam, tinham filhos e tornavam-se donas do lar. Não devo criticar a vontade das mulheres que escolhem esse caminho. Porém, questiono: será mesmo que é só isso? Para mim, esse padrão não se aplica. Ser mulher de respeito implica muito mais. Ser mulher de respeito é de fato muito mais. É assumir-me enquanto posição de escolha, ser dona e assinar minhas atitudes, sejam elas quais forem.

Acho bastante equivocada a maneira que a sociedade se auto julga moderna. Eles não sabem nem que o termo “moderno” é considerado antigo, e que atual mesmo é a contemporaneidade. E como se não bastasse, falácias como: “nos tempos antigos era diferente”, vivem na boca de gente que entra na filinha do senso comum, como eu entro na fila da cantina para comprar lanche. Não saber o que é moderno, falar do que não sabe, sem propriedade. Parece até que é “top” ser assim. É normal, é frequente e é ligado a como conceituam as mulheres que hoje tomam atitudes próprias, que partem de suas escolhas individuais, longe do que é visto aos olhos “modernos” da sociedade que mesmo nesse século, estão enraizados aos costumes de pensamentos padrões. Mais uma vez, sobre “aquela” mulher de respeito.

Falando de respeito, porque não citar o desrespeito do renomado presidente dos EUA, Donald Trump. A figura publicou recentemente uma foto em seu gabinete, rodeado por homens. Na fotografia, feita na Casa Branca, Trump estava assinando três ordens, uma delas para proibir o financiamento a ONG’s que prestam assessoria no exterior a favor do aborto. Além do contexto, fica explícito a afronta ao governo político feminino. Mulheres não merecem lugar nas cadeiras políticas? Ou é difícil aceitar que elas são capazes de ocupar qualquer cargo profissional na sociedade? A imagem que reafirma o governo machista do texano teve grande repercussão, e conta ainda mais para a minha incredulidade. Como alguém com conduta depravada assim, está à frente de uma das maiores potências mundiais? Não sei, e não preciso ir muito longe com os exemplos. No Brasil, também temos a “temer”. O país com um dos maiores índices de homicídios femininos no mundo, abraça os dados vergonhosos de violência contra a mulher. Recentemente, casos como a carta de escrita por Sidnei Araújo, autor da chacina de 12 pessoas, incluindo a ex, demonstra o ódio e intolerância contra o gênero feminino. Uma mulher, por ser mulher e tomar atitudes influentes sobre sua própria vida, foi morta. No discurso do autor, frases de extrema arrogância e crueldade reafirmam a atitude brutal com sua ex esposa. Na carta o nome “vadia”, não cessa a aparecer.

Se eu opto por usar uma saia acima de um palmo do joelho na faculdade, serei a “putificada” da sala. Se quero ficar com mais de um homem, dançar livremente em uma festa, sair sozinha com minhas amigas, perder minha virgindade antes dos 18, ler livros de romance erótico ou saber mais sobre sexo, sou a luz que acende no fogo do inferno. Até parece que 50 tons de cinza me deixam vermelha como o demônio... E para não ser só, a escolha de seguir sem nenhum parceiro até os 30 ou mais, não namorar aos 19, é mais crucificada que cristo foi há mil anos e bolinhas atrás. Como assim não posso morrer sem um marido? Ou vou morrer se não o tiver. É mais fácil acreditar em Papai Noel, do que em uma mulher que sobrevive bem sem um homem. O que é ridículo.

O que encontramos nos “modernos”, é um circo de hipocrisia, onde de palhaçada vai além do normal. São pré-julgamentos sem fundamentos. São frases avulsas, ditas com base em pré-conceitos enraizados de um passado onde existia imposição do certo. O que é certo para você? São mais de 65 anos de luta feminina por direitos civis e igualitários, para conquista de posição perante a sociedade que minimiza a mulher. E se eu aqui pormenorizar, ficará caro que durante todo o período alguém quis dizer o que era certo e errado.

O erro é de quem quer elidir nosso direito de escolha. Temos um mundo de opções para tomar diante de todo e qualquer assunto. Não queremos ser mãe antes dos 30, não sabemos cozinhar e nem precisamos obrigatoriamente aprender isso. Somos políticas, fazemos e estamos a frente. Eu saio para beber com as minhas amigas. Eu danço gêneros. Fico eufórica, moro sozinha, sou mãe e pai. Do tamanho do meu vestido, que cuida sou eu. Tenho relações sexuais, eu opto pelo prazer. E se é complexo ao entendimento dos adeptos ao que se julga padrão, simplifico por: eu escolhi não ser “aquela”. 

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