O que é uma mulher de
respeito para você? Para minha avó, é “aquela” que usa roupas comportadas. Meu
melhor amigo, diria que é “aquela” que não desce até o chão quando toca funk.
Segundo meu avô, é “aquela” que respeita o marido. Mas afinal, o que é uma
mulher de respeito? Há mais ou menos 50 anos, conceito de mulher de respeito se
aplicava as moças que aprendiam a cozinhar cedo, que se casavam, tinham filhos
e tornavam-se donas do lar. Não devo criticar a vontade das mulheres que
escolhem esse caminho. Porém, questiono: será mesmo que é só isso? Para mim, esse
padrão não se aplica. Ser mulher de respeito implica muito mais. Ser mulher de
respeito é de fato muito mais. É assumir-me enquanto posição de escolha, ser
dona e assinar minhas atitudes, sejam elas quais forem.
Acho bastante equivocada a
maneira que a sociedade se auto julga moderna. Eles não sabem nem que o termo
“moderno” é considerado antigo, e que atual mesmo é a contemporaneidade. E como
se não bastasse, falácias como: “nos tempos antigos era diferente”, vivem na
boca de gente que entra na filinha do senso comum, como eu entro na fila da
cantina para comprar lanche. Não saber o que é moderno, falar do que não sabe, sem
propriedade. Parece até que é “top” ser assim. É normal, é frequente e é ligado
a como conceituam as mulheres que hoje tomam atitudes próprias, que partem de
suas escolhas individuais, longe do que é visto aos olhos “modernos” da
sociedade que mesmo nesse século, estão enraizados aos costumes de pensamentos
padrões. Mais uma vez, sobre “aquela” mulher de respeito.
Falando de respeito, porque
não citar o desrespeito do renomado presidente dos EUA, Donald Trump. A figura
publicou recentemente uma foto em seu gabinete, rodeado por homens. Na
fotografia, feita na Casa Branca, Trump estava assinando três ordens, uma delas
para proibir o financiamento a ONG’s que prestam assessoria no exterior a
favor do aborto. Além do contexto, fica explícito a afronta ao governo político
feminino. Mulheres não merecem lugar nas cadeiras políticas? Ou é difícil
aceitar que elas são capazes de ocupar qualquer cargo
profissional na sociedade? A imagem que reafirma o governo machista do texano teve
grande repercussão, e conta ainda mais para a minha incredulidade. Como alguém
com conduta depravada assim, está à frente de uma das maiores potências
mundiais? Não sei, e não preciso ir muito longe com os exemplos. No Brasil,
também temos a “temer”. O país com um dos maiores índices de homicídios
femininos no mundo, abraça os dados vergonhosos de violência contra a mulher.
Recentemente, casos como a carta de escrita por Sidnei Araújo, autor da chacina
de 12 pessoas, incluindo a ex, demonstra o ódio e intolerância contra o gênero
feminino. Uma mulher, por ser mulher e tomar atitudes influentes sobre sua
própria vida, foi morta. No discurso do autor, frases de extrema arrogância e
crueldade reafirmam a atitude brutal com sua ex esposa. Na carta o nome
“vadia”, não cessa a aparecer.
Se eu opto por usar uma saia
acima de um palmo do joelho na faculdade, serei a “putificada” da sala. Se
quero ficar com mais de um homem, dançar livremente em uma festa, sair sozinha
com minhas amigas, perder minha virgindade antes dos 18, ler livros de romance
erótico ou saber mais sobre sexo, sou a luz que acende no fogo do inferno. Até
parece que 50 tons de cinza me deixam vermelha como o demônio... E para não ser
só, a escolha de seguir sem nenhum parceiro até os 30 ou mais, não namorar aos
19, é mais crucificada que cristo foi há mil anos e bolinhas atrás. Como assim
não posso morrer sem um marido? Ou vou morrer se não o tiver. É mais fácil
acreditar em Papai Noel, do que em uma mulher que sobrevive bem sem um homem. O
que é ridículo.
O que encontramos nos
“modernos”, é um circo de hipocrisia, onde de palhaçada vai além do normal. São
pré-julgamentos sem fundamentos. São frases avulsas, ditas com base em
pré-conceitos enraizados de um passado onde existia imposição do certo. O que é
certo para você? São mais de 65 anos de luta feminina por direitos civis e
igualitários, para conquista de posição perante a sociedade que minimiza a
mulher. E se eu aqui pormenorizar, ficará caro que durante todo o período
alguém quis dizer o que era certo e errado.
O erro é de quem quer elidir
nosso direito de escolha. Temos um mundo de opções para tomar diante de todo e
qualquer assunto. Não queremos ser mãe antes dos 30, não sabemos cozinhar e nem
precisamos obrigatoriamente aprender isso. Somos políticas, fazemos e estamos a
frente. Eu saio para beber com as minhas amigas. Eu danço gêneros. Fico
eufórica, moro sozinha, sou mãe e pai. Do tamanho do meu vestido, que cuida sou
eu. Tenho relações sexuais, eu opto pelo prazer. E se é complexo ao
entendimento dos adeptos ao que se julga padrão, simplifico por: eu escolhi não
ser “aquela”.
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