sexta-feira, 19 de maio de 2017

Conte-me uma novidade


Tã tã tã tã tã tã tã tã tã tã tã tã tãn... O plantão da Globo emitiu seu som alarmante sobre as casas brasileiras. Quem estava no sofá, rapidamente, voltou o olhar para a televisão. Eu que estava jantando com minha mãe, não deixei de dedicar minha atenção à tela de plasma retangular de 29 polegadas para ouvir cada detalhe do que seria noticiado.

Era quarta-feira, dezessete, com clima frio em pleno mês cinco, por volta das sete e quarenta, e eu que deveria estar na aula de Gêneros do Jornalismo Opinativo, estava em casa pensando no chazinho de minha avó, o único remédio bom o suficiente para que minha garganta voltasse a ser saudável. Desde segunda-feira, o clima indeciso dos extremos frio e calor, se uniu a chuva e acabou com o bem-estar do meu órgão interno do pescoço. Mas, sobre aquela vinheta... foi tão alarmante quanto sirene de ambulância, tão gritante quanto choro de recém-nascido às duas da manhã, tão curiosa quanto a vontade de saber o que seria noticiado. Perdi a lembrança do chá de minha avó em meio segundo.

Na mesa estavam dois pratos – as panelas dispostas no cooktop de quatro bocas que já tínhamos há três anos – e a comida estava maravilhosa: arroz, feijão, carne de panela e salada de repolho. A refeição tipicamente brasileira, com costumes tipicamente atuais de jantar com a televisão ligada. Tive sorte, a sala conjugada com a cozinha facilitou a virada brusca para o aparelho televisivo quando o som espalhou-se na casa. Não perdi um segundo do boletim.

As primeiras palavras da notícia foram ditas e os olhares vidrados permaneciam ansiosos por cada verbo que construía o discurso daquele plantão. Eu que preciso me pronunciar sempre que ouço algo – dizem que é culpa do signo de gêmeos ligado à comunicação – me apeguei calada. Primeiro, porque naquele momento não era cabível qualquer comentário, e segundo porque é de costume: “escuta lá!”, ser interditada por minha mãe quando ela quer muito ouvir algo e eu atrapalho pela euforia momentânea de transmitir alguma fala.

Ao fim do boletim, meu olhar voltando-se para o rosto de minha mãe, enquanto ela fazia o mesmo foi de caráter cômico devido às expressões – nós rimos – e eu, que estudo jornalismo, mas sou amante mesmo é de história queria acreditar que vivi para ver aquele plantão. “Que momento marcante!”, exclamei. E no meio tempo, muito rápido pude ouvir de minha mãe: “Temer desmascarado, mais um político ladrão. Legal, agora me conte uma novidade”. 

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