quarta-feira, 5 de julho de 2017

Apenas mais um



A viagem havia sido programada com muita antecedência e a cada dia que ela se aproximava, mais eu ficava nervoso. Até que esse dia chegou e eu tinha certeza de que seria o melhor dia da minha vida. Há semanas que vinha me preparando, malas prontas, tudo separado e nada deixado para trás.
Ao ir me despedir dos meus amigos, escuto alguém perguntar.
-       Tem certeza que é o momento certo?
-       Tenho, claro. Já estou preparado há bastante tempo. Não aguentaria esperar mais.
A pessoa que estava com um semblante de preocupação me olhou e disse:
-       Mas eles não têm um bom histórico. Pode ser perigoso.
-       Não se preocupe, tudo vai dar certo. Já foi tudo combinado.
-       Tudo bem, se você está dizendo. Te desejo sorte!
-       Muito obrigada, tenho certeza que nada vai acontecer.
Ao terminar de me despedir dos meus amigos, entro no ônibus, no qual tem apenas eu e o motorista, que logo começa a viagem.
No início, tudo estava certo, o caminho era o planejado, então não me preocupei muito. Decido tirar uma pequena soneca. Que arrependimento!
Ao acordar percebo que a estrada é diferente, logo questiono o motorista:
-       Moço, esse é o caminho certo?
Ele não responde. Espero mais uns minutinhos e pergunto novamente:
-       Nós estamos indo no caminho certo? Não me recordo de passar por aqui.
Novamente sem resposta.
De repente, o motorista começa a perder o controle do ônibus e eu que estava de pé sou arremessado para longe. Tudo começa a ficar preto e acabo perdendo a consciência. A última coisa que lembro era de perguntar:
-       Por que mamãe?
Sinto que não saberei por agora a resposta, pois não irei mais me juntar àqueles que seriam meus pais.
No oitavo mês de gestação minha mãe decidiu abortar.

Essa é minha história, a história de um bebê abortado.

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