A viagem havia sido programada com
muita antecedência e a cada dia que ela se aproximava, mais eu ficava nervoso.
Até que esse dia chegou e eu tinha certeza de que seria o melhor dia da minha
vida. Há semanas que vinha me preparando, malas prontas, tudo separado e nada
deixado para trás.
Ao ir me despedir dos meus amigos,
escuto alguém perguntar.
-
Tem certeza que é o momento certo?
-
Tenho, claro. Já estou preparado há bastante tempo. Não
aguentaria esperar mais.
A pessoa que estava com um semblante
de preocupação me olhou e disse:
-
Mas eles não têm um bom histórico. Pode ser perigoso.
-
Não se preocupe, tudo vai dar certo. Já foi tudo
combinado.
-
Tudo bem, se você está dizendo. Te desejo sorte!
-
Muito obrigada, tenho certeza que nada vai acontecer.
Ao terminar de me despedir dos meus
amigos, entro no ônibus, no qual tem apenas eu e o motorista, que logo começa a
viagem.
No início, tudo estava certo, o
caminho era o planejado, então não me preocupei muito. Decido tirar uma pequena
soneca. Que arrependimento!
Ao acordar percebo que a estrada é
diferente, logo questiono o motorista:
-
Moço, esse é o caminho certo?
Ele não responde. Espero mais uns
minutinhos e pergunto novamente:
-
Nós estamos indo no caminho certo? Não me recordo de
passar por aqui.
Novamente sem resposta.
De repente, o motorista começa a
perder o controle do ônibus e eu que estava de pé sou arremessado para longe.
Tudo começa a ficar preto e acabo perdendo a consciência. A última coisa que
lembro era de perguntar:
-
Por que mamãe?
Sinto que não
saberei por agora a resposta, pois não irei mais me juntar àqueles que seriam
meus pais.
No oitavo mês de
gestação minha mãe decidiu abortar.
Essa é minha
história, a história de um bebê abortado.
0 comentários:
Postar um comentário