quarta-feira, 5 de julho de 2017

O dia final


[...] Ela tinha dezoito anos, um marido de vinte e três e uma filha de dez meses.
Um dia como todos os outros, a tarde tinha aspecto bom, clima agradável e a casa da família precisava de alguns produtos da mercearia. O marido, comerciante de peixes na região, havia terminado sua lida diária. Com o carrinho adaptado que portava os peixes pescados por ele mesmo, subia pela rua de sua casa e finalizava suas vendas. Missão cumprida, ele foi a seu lar mimar a pequena criança que recém havia nascido... sua pequena filha.
Ao chegar a casa e constatar a falta dos produtos, subira até a mercearia mais próxima de sua residência. Ele sempre ia lá. Como quem esperava a despedida, pegou a criança em seus braços, beijou e a colocou no berço. Uma bitoca em sua esposa e a frase “fique com Deus”. Dirigiu-se a pé até o local. O lugar onde a fatalidade viria ocorrer.
Uma mercearia há uma quadra de sua casa, um bar. Homens jogavam baralho, ele não deixou de se sentar para tomar a merecida breja e se juntar ao jogo. Discussões ocorreram, mesas, cadeiras e garrafas de cerveja foram ao alto e o dono do estabelecimento contatou a policia local.
O marido dela se retira da mercearia. Lá fora, já a caminho de sua casa, de costas e com sacolas de compra nas mãos é atingido na nuca por duas balas disparadas. As balas atravessaram seu crânio e violentamente perfuraram sua testa. O som dos disparos ela pode ouvir. A criança chorou. A rua chorou, e o clima do dia que era bom, se configurou em tristeza e lamento.
Ela dezoito anos, a pequena menina dez meses. E agora? Indefesas e sem meios de saída. O mundo daquela jovem mulher mãe já não era mais colorido. Problemas e medos a colocaram em duvida para consigo mesma. No entanto, os dias passavam e sua única certeza era de que ela precisava vencer. Pés no chão, ela seguiu firme. Sem marido, sem alento, somente com a filha. Ela seguiu.

Era corajosa. Era mulher e era mãe.   

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